O aquecimento global representa uma das questões mais importantes da atualidade, com impactos não apenas para o meio ambiente, mas também para todos os seres vivos do planeta. Se nenhuma medida significativa for adotada para reduzir as emissões de gases poluentes, estima-se que a temperatura média da Terra possa aumentar em 2,4°C até o final deste século, o que acarretaria em consequências catastróficas.
Diante desse cenário, cientistas ao redor do mundo têm se dedicado a estudar os efeitos desse aquecimento global e a buscar estratégias para remover o carbono da atmosfera. Uma dessas abordagens recentes é o uso do biochar, cuja relação com a produção de chocolate é surpreendente.
O biochar é um tipo de carvão vegetal produzido através do processo de pirólise da biomassa, que consiste na queima de material orgânico em baixo teor de oxigênio a temperaturas em torno de 600°C. Estima-se que uma tonelada métrica de biochar possa armazenar de 2,5 a 3 toneladas de dióxido de carbono (CO2).
Segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, o biochar tem o potencial de capturar, em condições ideais, cerca de 2,6 bilhões das 40 bilhões de toneladas métricas de CO2 emitidas anualmente pela atividade humana.
Além disso, um benefício adicional do processo de produção do biochar é a geração de biogás, o que contribui para evitar a queima de combustíveis fósseis e, consequentemente, a emissão adicional de CO2 na atmosfera.
Você pode estar se perguntando qual a conexão entre o biochar e o chocolate. A resposta é surpreendente: uma das maiores fábricas europeias de biochar utiliza resíduos da produção de chocolate como matéria-prima. Localizada em Hamburgo, na Alemanha, essa produtora de biochar recebe cascas de cacau utilizadas e transforma esses resíduos orgânicos em um pó preto que é comercializado em grânulos para agricultores da região. Esse carvão vegetal pode ser utilizado como fertilizante, substituindo os fertilizantes artificiais convencionais e retendo carbono por centenas de anos.
Anualmente, a indústria de Hamburgo produz 3,5 mil toneladas de biochar e gera até 20 megawatts-hora de biogás a partir de 10 mil toneladas de cascas de cacau provenientes da produção de chocolate. A ideia é expandir a produção de biochar e promover mais uma estratégia para o armazenamento de carbono, evitando sua liberação na atmosfera.
Essa iniciativa demonstra como é possível utilizar subprodutos de uma indústria para fins ambientalmente benéficos, contribuindo para a redução das emissões de CO2 e para a mitigação dos impactos do aquecimento global. O uso do biochar não apenas auxilia na captura de carbono, mas também oferece uma alternativa sustentável e de longo prazo para a fertilização do solo.